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Água, água। Porosas águas de alegria, do pão na mesa. Águas de Li Bai ébrias de ternura, de S. João da Cruz abrasadas de amor, ó águas de Claudel morrendo à sede. Água. Água. Todas as águas, todas. Ó antiquíssima água das estrelas, próximas distantes águas matinais, oculta água dada a beber num só olhar.
Eugénio Andrade
terça-feira, janeiro 13, 2009
Barca de Alva
O cavaleiro que monta um cavalo de cera e galopa pela vida
segunda-feira, agosto 07, 2006
Urgentemente
Urgentemente
É urgente o Amor,
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros,
e a luz impura até doer.
É urgente o amor,
É urgente permanecer.
Eugénio de Andrade
segunda-feira, julho 24, 2006
Alto Douro-Portugal - NAVEGAR É PRECISO.
Surdo, Subterrâneo Rio
Surdo, subterrâneo rio de palavras
me corre lento pelo corpo todo;
amor sem margens onde a lua rompe
e nimba de luar o próprio lodo.
Correr do tempo ou só rumor do frio
onde o amor se perde e a razão de amar
--- surdo, subterrâneo, impiedoso rio,
para onde vais, sem eu poder ficar?
Eugénio de Andrade
Douro
Do interior profundo, das serras mais altas de Espanha, sedento de distâncias, agreste como o leito que o embalou, surge acolá naquela curva, o senhor das montanhas coroado por amendoeiras e vinhedos. Espantoso e deslumbrante, corta um país em dois e maior feito não há. Só os loucos o ignoram...
Manuel Araújo da Cunha
domingo, julho 23, 2006
Desencontrados
Do interior para o interior sem qualquer companhia direccionada a Oeste que alargasse horizontes, que devolvesse a esperança. A grande via para o litoral é liquida. Só o rio soube o que fez...
Douro
Senhora da Ribeira
Clara Madrugada
Olho-te na simétrica luz
da alvorada
E reencontro-me
Eu sou feito de ti
És corpo do meu corpo
És sangue do meu sangue
Claridade e sombra
Água a transbordar
da ondulação do vinho
Manuel Araújo da Cunha
Vieram lá de longe, de trás daquelas montanhas só para te ver e aqui ficaram a adorar-te para sempre...
Que maravilha é esta amigo!? Que magnífico pintor teceu este tão soberbo quadro em que a tela é a terra amiga que dá o pão e o óleo é o teu sangue generoso derramado por ti sobre as nossas vidas!?
Em ti me espanto, cega-me tanta beleza, quero falar mas não consigo pronunciar uma só palavra. És um encanto vivo, um milagre de Deus...
Manuel Araújo da Cunha
sábado, julho 22, 2006
Eclusa Valeira
Cachão da Valeira
Anoitece no Alto Douro. O rio aconchega-se mais no leito e prepara-se para dormir.
Dorme amigo e companheiro, repousa agora enquanto eu vigilante, tomo conta de ti...
As mãos e os rios
Abraço-te
no verde desta água
na imensidão da dor
Sobre o teu peito
as minhas mãos pousadas
inventam os beijos
Mãos rio e beijos
Durmo-te em mim
ao cair da tarde
quando o rio é verde
meu amor
Manuel Araújo da Cunha
Aqui e por muitos quilómetros só a via-férrea te acompanha neste lugar onde a solidão mais se acentua. Há grifos, aves de rapina a pairar no céu, brisas perpétuas moldam as faces austeras dos rochedos, lebres, coelhos, perdizes e javalis pastam livres nas tuas margens e a natureza recolhida repousa eternamente.
Manuel Araújo da Cunha
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